Lendas Esquecidas #1: Anjos

        — Se acredito em anjos?

        Lizandra, uma bela vampira me fizera a pergunta. Durante toda a guerra entre o Céu e o Inferno pelas almas da Terra, nunca um anjo foi visto.

        — É difícil responder…

        Estávamos numa mansão riquíssima. Não vivi milênios apenas me escondendo em covas. Uma sala ampla e bem mobilhada. Janelas grandes cobriam a parede e proporcionava uma bela vista do mar, que se fundia com a escuridão do céu.

         — Por quê da pergunta?

        — Acho que vi um.

         As palavras me atingiram avassaladoramente.

         — Alessa quase pirei pensando nisso.

        — Vamos diga. — tentei manter-me calma.

        — Foi muito rápido, mas meus olhos captaram perfeitamente: Um ser alto, loiro e belo; Apenas de calça jeans; Asas magnificamente belas saiam de suas costas . E sua aura, pela Deusa! A mais pacífica e pura que eu já vira. Uma luz forte e dourada o envolvia, não consegui me aproximar mais para ver. Numa fração de segundos desapareceu. Ao mesmo tempo em que estava ali, pareceu nunca haver estado. Pensei ter imaginado. Mas sei que o vi. Um cavaleiro do Paraíso. Eles existem!

         Abracei-a e a reconfortei. Estava em choque!

        Ela olhou-me nos olhos. Seu rosto estava coberto de sangue das lágrimas.

        Tentei falar, mas não tinha forças. Depois de anos tentando acreditar neles. Ela avista um provando sua existência!

         — O que faço?

        — Observar. E não sair procurando anjos e demônios como fizemos no passado. — soltei-a.

        — Aonde vai? Não me deixe.

        — Buscarei Laio Partéau. Aguarde… — Caminhei até a varanda, abri o vidro da porta e voei pela noite a fora. Voando fui até a sede em Paris encontra-lo.

         Antigo e fiel companheiro, paixão passada. Será?

        Na sala dele há um laptop ligado sobre o sofá, mostra uma pesquisa sobre a Necromancia Asteca.

        Barulho na porta; ele entra.

        Vampiro não muito alto, e magro. Cabelos castanhos macios. Os olhinhos sagazes amendoados. Vestia um terno de corte moderno.

         — Alessa?

        — Monsieur Partéau, espero não ser má hora.

        — Jamais — seguiu até sua mesa, sentou e ficou me observando de braços cruzados — Em que devo a honra?

         Apenas sorrio.

         — Em que eu possa ajudar? Você não faz visitas, nunca mais nos vimos.

        — Você poderá ajudar a mim, à Lizandra e a você próprio.

         O semblante preocupou-se. Coçou o queixo.

         — Como nos velhos tempos?

        — Lizandra avistou algo que jamais conseguimos, um anjo.

         Laio arregalou os olhos.

         — Não… Não dá para acreditar!

        — Alguma idéia?

        — Por que eu teria?

         Durante a eternidade ele buscou pelos celestiais. Investigou, mas nunca os encontrou. E agora outro os descobre e não ele.

         — Ninguém melhor que você.

         Ele enxugava lágrimas, o lenço ficou todo manchado parecia limpar feridas.

         — Laio tenho um forte pressentimento que algo acontecerá.

         Olhou-me passivo; rosto calmo. Recuperado.

         — Vamos investigar. Como no passado.

        — Mas nunca os encontramos.

        — Desta vez será diferente!

         Ele dobra a manga da camisa. Notei pequenas inscrições no braço num idioma que nunca havia visto. Fiquei observando quieta.

        Sabíamos que guardava um poder único desde que fora criado. Agora ele aprendera a controlar e manifestar estes dons.

        De um baú retirou uma máscara de madeira e um punhal de pedra. Pôs a máscara coberta de runas na face; Os olhos brilhantes podiam ser vistos por dois entalhes.

        O poder de Laio surgiu de seu grande medo por fantasmas e cemitérios, acabou desenvolvendo a técnica de penetrar no plano espiritual.

        Durante a eternidade buscamos o sentido da vida e da morte; no mundo espiritual não há essa distinção. Lá não há vida e nem morte. É um intervalo, local onde todos devem passar e aguardar serem erguidos para o paraíso ou arrastados para o inferno.

        Não tão diferente do nosso. Hora ou outra espíritos se manifestam tentando se comunicar conosco. Eu tenho o poder de apenas avistar este mundo, ás vezes, me comunicar com eles. Porém Laio vai muito além, pode se tornar incorpóreo e penetrar, passando de um mundo ao outro, entrando no mundo espiritual.

        Laio fazia cortes profundos no pulso, riscava com o punhal afiado e redesenhava os símbolos. O sangue escorria e manchava o carpete.

         — Laio! — Ele estava perdido num transe sinistro. Desenhava sinais no ar como numa lousa sobrenatural.

         Forcei-me enxergar o mundo espiritual usando bruxaria. Agora eu tudo via: É muito estranho, pois ele é e não é ao mesmo tempo. Vejo o plano material, o nosso mundo; e ao mesmo tempo vejo o fantasmagórico, um mundo dentro do nosso.

        Ele desenha uma porta e entra. Um baque me acerta em cheio; caio estirada. Meu agressor surge para mim — um fantasma.

      Forma incorpórea de um antigo mortal. Os olhos apenas frestas escuras, as bochechas carcomidas por vermes; o nariz sem cartilagem exibindo duas fendas triangulares; sem dentes e a pele colada aos ossos parecendo um zumbi.

        Ele ri sarcasticamente.

        Levanto-me, ele avança contra mim, estava preparada, mas para o quê? Atravessa por dentro de meu corpo, uma dor profunda e gélida corrói meu corpo. Parecia que lâminas dilaceravam-me. Quando termina, caio deitada exaurida.

         — Vampiro!

         Ele falava com Laio que revirava um antigo escritório. O fantasma avança contra ele, que tentou correr para o portal dos dois mundos. Carregava um livro consigo. Eu via tudo como num sonho: hora a cena me era visível, hora via apenas a sala vazia.

         — Laio cuidado!

         O espectro o havia agarrado nos braços há poucos passos da saída daquele lugar. Laio lutava bravamente, mas a força exercida pela alma era tão forte quanto a dele.

        Não era especialista em espíritos. Só conseguia ser ouvida, ao menos…

         — Espectro das trevas que fora condenado, eu ordeno que venha à minha presença. Eu o convoco! — falei telepaticamente.

         Ele o solta e vem a mim: Aguardando saber o motivo de sua evocação. Tempo para Laio sair de lá e lacrar tudo.

         — Eu, Alessa o liberto deste fardo. Está livre para seguir para onde for: Céu ou Inferno, não precisa mais sofrer no purgatório. Vá…

         O espírito se dissolve em luz e fumaça. Sumindo para sempre.

         — Laio está tudo bem?

        — Na medida do possível, sim.

        — Que livro…

        — Angeologia, o estudo dos anjos. Ele pertenceu à minha Ordem há gerações, foi retirado de nosso poder e carregado para as terras espirituais. Estava procurando-o há séculos.

         Ele abre o livro e o lê numa velocidade incrível.

         — Alessa, encontrei. Entendi como são os anjos!

        — E como seria isto?

        — Os anjos não são constituídos de matéria como nós. Mas sim de luz e amor. O mais puro amor da fé dos homens e de Deus… Esta luz unida ao amor é moldada na forma que o anjo bem entender.

        — O que quer dizer com isso? Amor e luz fundida num tipo de substância que eles possam moldar a seu próprio gosto?

        — Exato! Imagine os fantasmas, nada melhor que eles. Você já estudou e acabou de ver um. São constituídos de energia, a alma. Carregamos a alma em nós e quando morremos ela é liberada podendo ou não nos transformarmos em fantasmas. Esta energia se funde numa vontade específica que prenda esta alma à Terra. Missão inacabada, pessoa amada, um objeto específico os forçam a ficar presos ao mundo físico. Estas vontades lhe dão forças para que haja manifestação. Os anjos também, mas usam luz e amor. Acredita-se que os primeiros surgiram diretamente da aura de Deus; Dos raios luminosos que emanam do Senhor do Paraíso.

         Eles, jamais vistos, agora um fora visto pela nossa espécie; E Laio revela toda a composição genética angelical.

         — Por quê ele se mostrou? Deve haver algum motivo.

        — Nem tudo no mundo têm um motivo claro. Algumas coisas estão terrivelmente escondidas. E sobre a aparição dele…

        — Diga Laio — pedi impaciente.

        —Você já respondeu! Ele quis se mostrar só agora; Por qual motivo? Isto somente ele ou Deus responderão.

         Fiz diversas perguntas a ele e respondeu exatamente isso: Lizandra viu o anjo porque ele o quis e nada nem ninguém poderia fazê-lo se um anjo assim não o quisesse.

        Segui para a janela.

         — Já vai embora novamente?

        — Da outra vez não fui eu quem partiu.

         Lancei-me no ar.

         — Para onde vai? — gritou ele.

         Não precisei responder, já sabia. Lizandra quem veio a min. Levaria a resposta para ela. E depois? Não sei dizer.


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6 Comments

on “Lendas Esquecidas #1: Anjos
6 Comments on “Lendas Esquecidas #1: Anjos
  1. É bem o tipo de histórias que gosto de ler. Anjos, fantasmas e vampiros. Adoro universos que têm essa mistura, pois sempre conseguem render boas histórias. Muito interessante o conto. Parabéns, Croft.

    Abçs

    Al

  2. Criativo, interessante, instigante… eu poderia continuar escrevendo aqui por um bom tempo Thiago. Adorei o conto e acho que deveria ter a continuação :P

    A narrativa não tá chata, consegue prender a atenção da pessoa nos mínimos detalhes e isso que eu prezo muito quando leio alguma história, conto…etc.

    Parabéns mesmo, continue escrevendo outros contos e boa sorte sempre!

    Pode contar comigo pra ajudar na divulgação, não me custa nada :D

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