- Esses orcs miseráveis….
Essa foi a ultima coisa que Olram conseguiu pensar até começar a perder a consciência. Os golpes vinham de todos os lados: uma marretada na costela, uma estocada no ombro e por fim um chute no peito que o fez cair em meio a alguns galhos.
Aquele era o fim. Na verdade quando decidiu partir em busca dos Orcs que saquearam seu povo e deixaram um rastro de matança pra trás, já sabia que poderia não voltar. Mas mesmo estando em uma desvantagem numérica gritante, achou que conseguiria levar mais deles consigo, ou pelo menos seu líder. Olram e sua tribo sempre tiveram problemas com orcs. Embora vivessem a apenas alguns dias de Warda, a capital de Caledon, estavam igualmente próximos à cordilheira de montanhas que encerra o reino e de lá sempre surgiam alguns orcs em busca de suprimentos, itens e tudo o mais que estivesse em seu caminho. Dali seu ódio contra essas criaturas, pois não raras eram as vezes que perdiam algum amigo ou criança emboscado pelos covardes monstruosos.
Diferentemente do que ocorria normalmente, naquela tarde de outono uma verdadeira horda de orcs desceu das montanhas, praticamente três vezes o número de habitantes de sua pequena tribo e contra aquele contingente jamais visto nem mesmo ele e os demais guerreiros conseguiram dar conta. Muitos morreram, alguns fugiram e outros ainda, como ele, conseguiram sobreviver. De estranho, perceberam que os orcs pareciam estar apenas interessados em passar, mas é claro que um grupo de orcs daquele tamanho não passa simplesmente sem deixar marcas. Quando o ultimo grupo da caravana monstruosa se foi, quase nada da tribo havia sobrado, e quase ninguém estava vivo. Os guerreiros que sobreviveram decidiram escoltar os feridos para algum lugar seguro e depois tentar buscar pelos sobreviventes que fugiram. Olram fez que não ouviu. Seu líder caíra em combate, sua irmã fora violentada e degolada pelos montros e poucos eram os sobreviventes do massacre. Se não fosse atrás daquelas criaturas agora sabia que dificilmente as encontraria novamente, e essa marca em sua honra não poderia carregar pelo resto de sua vida. Pegou sua espada de lâmina larga que caíra durante o combate e partiu no encalço das criaturas.
Durante a perseguição seu pensamento estava turvo. Sabia que eram muitos, sabia que facilmente seria dominado e subjugado. Porém naquele momento de fúria isto pouco importava desde que pudesse estripar alguns daqueles malditos.
Olram tentou se levantar, mas logo percebeu que seria uma tarefa árdua quando ao se apoiar sentiu a pontada do profundo ferimento em seu ombro. Talvez algum órgão também tenha sido perfurado por suas costelas quebradas. Tentou canalizar sua fúria e se levantar de sopetão em direção aos poucos atacantes que restaram, porém seu movimento foi muito mais lento do que imaginara, e sua fúria já não conseguia mais alimentar seus músculos. O pé fedido e asqueroso de um dos orcs o forçou contra o chão, fazendo grande pressão em seu peito. As criaturas riam zombeteiras diante de mais uma vítima. Seu algoz preparou a espada enferrujada para o golpe de misericórdia quando um urro desviou a atenção das criaturas.
A noite acabara de cair e de rompante uma luz cegante surgiu por de trás das árvores acompanhando o rugido. Em um primeiro momento tudo estava muito confuso na cabeça desnorteada de Olram. A pressão sobre seu peito fora aliviada rapidamente. Talvez as criaturas tenham se voltado contra seu novo inimigo. Sons de espadas tilintavam, um martelo batendo em um escudo, orcs grunhindo algo que ele não conseguiu discernir e uma voz rouca e forte clamava algo que ele ouviu, mas não conseguiu assimilar. Seus sentidos ainda estavam muito confusos. Aos poucos sua visão retornava, e então pode ver seu salvador: um cavaleiro alto, forte e trajando uma armadura completa levemente azulada com adornos dourados. O elmo fechado não deixava ver seu rosto. A batalha seguia voraz, e Olram aos poucos recobrava seus sentidos. Percebeu que o cavaleiro combatia três dos quatro orcs que o dominaram. Um deles já havia caído e pela forma como combatia o cavaleiro tentava se aproximar dele sem baixar a guarda. Percebeu então que seu salvador era na verdade uma salvadora. Agora já um pouco mais consciente notou os contornos femininos da armadura, porém grandes demais para uma mulher comum.
Enquanto pensava na mulher que o salvara não notou que o combate estava perigosamente próximo de si, e quando tentou se mover e seus ferimentos começaram a doer, sentiu um imenso conforto em suas entranhas
- Maellis lhe dará forças para que me ajude neste combate. Levante-se e vamos derrotá-los todos! – A voz que saia do elmo era estranhamente gutural e feminina.
Olram estranhou, mas nem deu importância naquele momento, o mais importante era ficar a salvo. Sentindo-se revigorado, o poderoso bárbaro já nem precisava de sua fúria para dar conta dos orcs. Junto de sua parceira derrotaram os três orcs restantes. Diante dos inimigos caídos ambos mantiveram prontidão por mais alguns segundos, como que esperando que algum deles voltassem do reino dos mortos, mas isso não aconteceu.
- Lhe devo minha vida, mulher. – Olram resmungou em seu chucro agradecimento
-Agradeça à Maellis e aos seus amigos que sobreviveram e indicaram a direção por onde vc havia perseguido os orcs. – exclamou rígida a voz roucamente feminina.
Ao analisar pela armadura Olram certificou-se de que essa era a maior mulher que já vira, maior que ele mesmo.
- Ainda há mais deles. Quando viram que eu seria dominado seguiram seu curso. Apenas aqueles quatro ficaram para terminar o trabalho – notou-se uma ponta de orgulho ferido
- Eu sei. Nós do priorado ficamos sabendo dessa horda imunda logo que abandonaram as montanhas. Não conseguimos chegar a tempo de evitar que destruíssem alguns vilarejos mas a essa altura meus companheiros já devem estar dando um jeito naqueles monstros – havia um certo ódio em suas palavras
- Moça, não sei quem é, mas se odeia os orcs então seremos bons aliados. Odeio essas criaturas mais do que tudo e quero me encontrar com seus amigos para estraçalhar mais alguns daqueles crânios esverdeados – haviam algumas dúvidas, mas o bárbaro queria primeiro vingar sua honra.
- É justo, vamos em meu cavalo que talvez ainda consigamos participar da certame – falou a cavaleira enquanto chamou sua montaria.
- Posso saber seu nome e ver quem você é? Afinal, você salvou minha vida.
Com um aceno positivo de cabeça a mulher levou as pesadas mãos ao elmo e o retirou. Por um momento Olram engoliu a seco. O instinto levou sua mão ao cabo da espada, porém sem empunhá-la. Não sabia como agir, acabara de quase ser morto por um bando de orcs quando uma salvadora misteriosa surge como enviada dos céus para salva sua vida. Porém a tal salvadora era uma deles. Tinha traços um pouco menos bestiais, e a pele mais acinzentada do que verde, mas as grandes presas inferiores saltavam-lhe à boca bem como seu nariz que estava mais para um focinho, ela era um orc! Olram não conseguiu disfarçar a expressão de desgosto.
-Me chamo Chiara, sou uma clériga membro do Priorado e serva da Senhora da Luz Maellis. Não precisa fazer essa cara, tenho tanto nojo dos orcs quanto você. Sou uma meio-orc, filha de uma mãe humana e um orc nojento. Não há tempo para maiores explicações agora, no caminho esclarecerei suas dúvidas, isso é claro, se você ainda quiser sentir o sangue daqueles imundos na sua lâmina?
Toda aquela informação parecia meio estranha, Olram nunca havia visto um meio-orc, nem sabia que eles existiam. Mas se odiava os orcs, embora tivesse uma aparência perturbadoramente semelhante à deles, era sua melhor aliada no momento. Ele fez que sim com a cabeça e subiu na garupa de pesado cavalo adornado com uma fênix dourada em sua cela logo depois de Chiara. A clériga recolocou o elmo e disparou em direção a mais um combate libertador.
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pow mt bom, só não usaria "vc" num conto, fica meio "Internetês"
adorei o final e o conflito cultural. Maneirão! parabéns.