Ola a todos
Sempre que jogamos algum RPG ambientado na idade média imediatamente pensamos em castelos, guerreiros, magos, espadas e cavalos. Temos o retrato de cidades com seus ferreiros, tavernas e mercados ilustrados em nossas mentes, com toda uma construção de fantasia preparada. Contudo, a verdadeira idade média europeia era bastante diferente, as cidades eram pequenas em sua maioria, com poucas dezenas de milhares de habitantes salvo uma ou outro exceção e a maioria das pessoas não viviam ali.
Contrario do que vivemos atualmente, a Europa medieval era primariamente agraria, com uma larga população rural mas não, não falamos de meros camponeses ou colonos donos de uma pequena propriedade e sim de uma maioria da população de camponeses vassalos de senhores feudais nobres ou eclesiasticísticos, que trabalhavam em uma terra que não era sua em troca de uma parcela da produção,tendo ainda de trabalhar gratuitamente alguns dias da semana nas terras do senhor, de onde não tirariam nada para si. Eles estavam vinculados a terra, tendo de nascer e morrer nelas pela vontade de seu senhor, honrando juramentos feitos por seus ancestrais.
A vida de um camponês na idade média era bastante simples, a família inteira trabalha do nascer do sol até o por do sol, alimentar-se apenas com o suficiente (pois não tinha direito a muito mais do que isso), e em um dos dias da semana orar, claro, estudos mostram que mesmo sendo simples, a alimentação medieval era mais rica na diversidade e na qualidade calórica ingerida apesar de menor do que a atual de vários países europeus. Sua morada normalmente era uma casa de comodo único, onde dormiam todos os membros da família sobre a palha e em muitas regiões, principalmente as mais frias os animais dormiam com eles para que homens e animais não morressem de frio. Até o século XI não haviam arados na maior parte dos feudos e foi somente neste período que começaram a ser usados enxadas e pás de metal ou ferraduras. A vida não era só sofrimento realmente e os camponeses participavam das festas religiosas e feriados pagãos realizadas com o trabalho deles para seus senhores, sem falar no fato de que era possível juntar economias, caso as safras fossem boas, a terra fértil, o senhor justo e o clero benevolente, desta forma era possível que comunidades inteiras enriquecessem. Também era possível que casamentos entre camponeses ricos os favorecesse com o direito a herança, terras fossem usurpadas e até mesmo que nobres menores pudessem casar com camponeses bem sucedidos, mas também era possível que os camponeses passassem fome por canta de senhores tirânicos, de secas, de terras ruins ou doenças que os impedissem de trabalhar. Um singelo enfeite de ouro nas vestes de uma dama da corte valiam 140 dias de trabalho de um camponês e em muitos feudos, um camponês portar moedas de ouro era considerado crime, pois lhes era proibido dispor de armas de ponta e bens de luxo sem autorização, sendo permitido que possuíssem apenas moedas simples, que lhes permitia comprar produtos de qualidade inferior, ferramentas de trabalho, entre outras coisas mais simples.
A precaridade de higiene e alimentação garantia que o nível de mortalidade fosse alto, ao ponto de metade das crianças de algumas regiões não chegarem aos 2 anos e a expectativa de vida não passaria dos 35 antes do século XV. Pestes eram comuns, seja a famosa Peste Negra ou as outras que em menor escala assolaram ali e acolá ao longo dos quase mil anos em que a Europa viveu seus períodos medievos, muitas delas compostas por doenças simples aos nossos olhos modernos, como sarampo, pneumonia, sarna, etc. Guerras entre senhores também ajudava a agravas a situação dos camponeses que eram obrigados compulsoriamente a lutar por seus senhores, um dos vários em uma Europa que entre os séculos IX e XIII era dividida em cerca de 60 feudos. O camponês lutava com armaduras simples de couro rusticas, espadas, machados e lanças de má qualidade, enquanto senhores tinham cavalos a arma que fazia diferença nas guerras, armaduras e armas de ponta, alem de cavaleiros treinados como uma tropa de elite para sua segurança. A tão famosa Espada Longa originalmente era um item de cavalaria, e portanto, um item da nobreza.
A vida do camponês era extremamente atrelada a imposições culturais da igreja, que interferia em suas praticas do mais mundano ao mais intimo. Mesmo o coito era tema de debate, sendo incentivado o celibato após o século XII que restringia a 93 dias possíveis no ano. A mulher era incentivada a aceitar a vontade de seu marido e era tratada como um dos principais alvos as acusações de pecado pela igreja, sua função social crucial era tratada em segundo plano, mesmo com a presença de diversas figuras de grande importância, seja nas ciências, artes, religião ou na guerra, algo que tem heranças sérias e complexas em nossa sociedade atual, vide os problemas com garotas e o RPG por conta do machismo que ainda hoje no século XXI é um problema. Mas iremos abordar melhor estas questões em outras postagens.
Os estrangeiros também eram vistos com maus olhos, predominando um profundo sentimento xenofóbico, culpa da ausência de estradas, do precário comercio entre os feudos, das constantes guerras quanto ataques de bárbaros tanto os que derrubaram roma quanto os vikings. Os povos sem terras eram vistos com maus olhos e Judeus, Ciganos, Gitanos, viajantes Mouros, Árabes ou Persas eram taxados como hereges, muitas vezes culpados por qualquer mal que ocorria em qualquer lugar que estivessem.
Os camponeses também eram iletrados, sabendo as orações e juramentos por os decorar, o que mesmo no século XIII para alguns pensadores garanta que o catolicismo não é tão difundido, servindo apenas de fachada para um povo que não o compreende bem. Habitualmente mesmo alguns nobres eram iletrados, sendo que em alguns feudos apenas uma ou duas pessoas sabiam ler e escrever, apenas com o intuito de manter os registos em dia. Era frequente que castelões e damas da corte tivessem tal função. Sendo assim, os camponeses tendiam a acreditar naquilo que o clero lhes dizia, assim como nas crenças da região, os folclores pagãos e lendas locais. Já povo, os camponeses de forma geral eram simples, humilde, preconceituoso e supersticioso em sua maioria, mesmo nas regiões mais abastadas da Europa medieval.
Em suma, este post é apenas um retrato geral, bem simples que tenta mostrar sobre a mais importante figura da idade média, que manteve o grosso da sociedade e economia deste período na Europa, que também é um fator habitualmente ignorado em muitas mesas de RPG que se passa no período. Já vi diversos jogos onde praticamente não haviam camponeses e mesmo assim a comida magicamente surgia no comercio das cidades, nas tavernas e nas estalagens. Quando estiver com seu grupo nesses lugares tomando sua cevada, comendo seu pernil ou o que for, pergunte-se de onde saiu esse alimento, algo que seu personagem pode não dar tanta importância, mas que ao ser agregado as informações de campanha pode enriquecer em muito o cenário do meste. Também torno este post uma complementação para meu anterior sobre a importância de estudar história justamente por demonstrar o quão longo nossas praticas em mesa estão da realidade da vida em certos aspectos, sem falar em colocar por terra vários históricos de personagens sobre camponeses saindo com armas para vingar a família morta por x ou y.
Nota de agradecimento ao Heder Honorio pela correção quanto ao século XX e XXI ^^
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