Dentro da Dungeon #32 – O jogador venceu a vergonha

GoblinNão faz muito tempo que passei por isso em minha mesa, talvez tenha acontecido há três meses.

Estávamos jogando nossa famigerada campanha de Old Dragon quando, por uma série de razões, precisamos de mais um jogador. A pegada do jogo estava mortal e era a terceira vez que um dos jogadores criava um novo personagem, estava complicado e o jogador estava prestes a desistir. Não que o jogo seja mortal ao ponto de acabar com a aventura – quem torna o jogo assim é a mesa -, mas pela razão de estarmos no Underdark. Lembre-se: tudo no Underdark quer matar você!

“Talvez eu conheça alguém que queira jogar, o que acha?”

Foi então que um novo jogador entrou na peleja. Os heróis estavam chegando aos valiosos túneis de Blingdestone, lar dos svirfneblin. O grupo fazia a segurança de um dos professores de Sorcere, e este, junto com os demais alunos, deveria reconhecer uma antiga erva que há muito não se via nas redondezas. Raríssima, ela deveria servir aos propósitos da Rainha Aranha. “A Passagem” era o nome da aventura e como o nome já dizia: o ponto alto era o caminho que heróis estavam percorrendo. Nada mais.

Vários perigos se apresentaram. Alguns podendo ser evitados com um pouco de calma, enquanto outros não. Tinham de lutar e testar suas habilidades.

Quando o grupo chegou ao objetivo “principal”, três jogadores haviam morrido. Retornaram em novos personagens. Dois deles morreram novamente.

“Temos que chamar mais alguém. Ainda temos o caminho de volta.”

O amigo em questão – que não vou citar o nome, a pedidos –, chegou à mesa como uma lufada de ar. Insistimos para que jogasse, já que sabíamos da sua vontade, mas estava com vergonha de contar para os amigos gamers – sim, amigos gamers. Nossa mesa ganhou a “desvantagem” Má Fama depois que tiramos três gamers para fazer parte da mesa. – não que gamers não possam ser rpgistas, mas eles deixaram de frequentar servidores para nos reunirmos e jogar RPG. Mas não aconteceu de uma hora para outra.

Aos poucos o novo jogador passou a presenciar nossas sessões. Muito papo, várias pérolas e muita rolagem de dados, isso foi cativando o camarada. Ele já havia ouvido sobre o assunto, mas nunca jogado e muito menos presenciado. Encantado, logo criamos seu personagem.

Após duas sessões passamos a conversar mais ao final de cada sessão, a chamada: resenha. Convidei outros para participarem, que relutantes vieram. Dando sequência a campanha, passamos a conhecer a verdade. Não era uma questão mal resolvida entre amigos, ou entre gamers e rpgistas. O mal que afligia o jogador era o fato de ter vergonha de estar presente em uma mesa com outros “desconhecidos” – ele conhecia metade da mesa –, vivendo o imaginário que é o RPG.

A vergonha foi vencida lentamente. Primeiro deixei que os outros jogadores tomassem conta do jogo, deixando que interpretassem livremente em uma boa narrativa com muita informação, às vezes criadas por eles. O novato foi se habituando ao estilo de jogo e “dando cabo do Tiamat”, aquele bicho de sete cabeças que ele havia feito sobre o RPG.

Saindo da mesa…

Trocando uma ideia com um velho conhecido do sonaopodetirarum, o companheiro Natan, ficou claro que às vezes esse orgulho em jogar RPG pode causar receio em novos jogadores. Estamos falando de orgulho? Sim! Pois era o sentimento que os jogadores mais antigos passavam para o novato, falando sobre regras e seus personagens. “Por que eu vou me meter em algo que não conheço e tem pessoas que sabem tanto? Vou passar vergonha no meio desses caras.”

Através das redes sociais encontramos muitos e muitos conhecedores, desbravadores de livros, que impõem seu estilo de jogo como “certo e sagrado” – tudo balela. Muitos nem jogam efetivamente e levam a vida em julgar. Porém formam opinião e são seguidos – muitas vezes sem saber – por pessoas que gostariam de experimentar o roleplay, mas que acabam desistindo e permanecem isolados diante do PC vivendo algo que não é.

Encontrar novos jogadores não é uma tarefa fácil. É mais fácil reclamar que os antigos jogadores se afastaram e não querem mais jogar. Na minha mesa é até compreensível, sempre digo que o meu grupo “cresceu”. Alguns casaram, tiveram filhos e trabalham, claro que não é motivo para se afastar do hobby, mas são ótimas desculpas.

Bons dados!


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Sobre Antunes Rocha

Pai, administrador, abcdista, rpgista e tentando ser escritor. Gostou? Siga @old_paladin