Chega dados momentos na vida de qualquer pessoa em que a quantia de responsabilidades torna-se exaustiva. Seja o período de TCC, seja o nascimento de um filho, o casamento, novo emprego dos sonhos tão cobiçado mas tão cheio de responsabilidades, concurso, falecimento de entes queridos (alguém tem de correr atras de funerária, caixão, túmulo…), todos temos limites em que as responsabilidades tornam-se pesadas demais para carregar. Nós que somos mestres de RPG enquanto seres humanos imersos na sociedade como qualquer outro também temos em algum momento da vida em que chegamos no limite, que nossas vidas não comportam mais tantas responsabilidades. Nestes momentos, habitualmente cortamos as responsabilidades que não são tão emergenciais e damos foco a aquelas que são cruciais, vitais e inadiáveis.
Conduzir histórias de RPG também é uma responsabilidade, você habitualmente tem de garantir a mediação entre os demais jogadores para que todos tenham como divertir-se. E como uma responsabilidade que não é passível de ser comparada a um falecimento ou futuro profissional (exceto se o RPG for seu futuro profissional) torna-se uma bagagem a ser deixada para traz junto a tantas outras.
Nestes momentos há a necessidade de maturidade por parte dos membros de um grupo de RPG, para compreender que um jogador deixou a mesa para concluir o TCC mas pretende retornar, para compreender que o mestre perdeu sua mãe e precisa de um tempo para reorganizar os sentimentos. Claro que nem todos se deixam abalar igualmente e há quem vá jogar tranquilo enquanto o pai esta na UTI e quem consiga fazer dois TCC, narrar RPG e ainda ter tempo para levar um projeto paralelo a frente e eu tenho medo dessas pessoas mas isso foge ao habitual, mostrando pessoas com uma fibra moral e psicológica anormal ou um psicopata perigoso que não é a média de quem estou abordando. Acredito que a maioria dos RPGistas hoje tem (ou deveria ter) esta maturidade, pois a maior parte das pesquisas que já vi mostram que a média de idade varia entre 20 e 30 anos, portanto não tenho uma preocupação maior em abordar este ponto em particular.
Os modelos tradicionais de RPG tem este mal, o mestre fica totalmente sobrecarregado de responsabilidades e elas podem vir a ser grande peso agregado nestas situações, não sobrevivendo com tanta facilidade e quando persiste, levam o mestre a demonstrar nas suas praticas. Talvez os primeiros modelos de compartilhar a responsabilidade narrativa no RPG tenham nascido desta problemática, ou talvez eu esteja escrevendo uma groselha, mas é certo que eles tem uma dinâmica capaz de superar as turbulências com maior tranquilidade. É muito mais fácil para um mestre conduzir uma história onde os jogadores podem compartilhar as responsabilidades com ele, é mais fácil de conciliar e superar todos os problemas quando temos alguém do nosso lado nos estendendo a mão.
Não digo neste artigo que devemos todos jogar os livros de D&D pelos ares e correr para novos sistemas, mas quem sabe todos devemos repensar o como tratamos a responsabilidade do mestre e como pensamos enquanto um grupo soluções para superar crises que possam findar os jogos. Ninguém gosta de abandonar um jogo que esta agradando, os personagens com quem nos identificamos, mas se deixarmos toda a responsabilidade nas costas de uma única pessoa, uma hora, ela pode desabar e ai o grupo vai desabar também como um baralho de cartas.
Mas como evitar que esse tipo de coisa aconteça? Bem, não tem como tornar imortal quem esta na UTI, tão pouco fazer o TCC por ele até tem mas isso ai é crime sabe, então o que podemos fazer é assumir parte da responsabilidade. Ter mais de um mestre no grupo, para que um mestre não seja eternamente sobrecarregado só, sem falar que todos os jogadores podem fazer algumas coisinhas simples que qualquer pessoa matura e responsável faria, mas que o Pontos de Experiencia detalhou bem na postagem Sendo um Jogador Melhor – Responsabilidade.
Mas mais importante que tudo. Pessoal, vamos ser mais tolerantes e humanos com nossos colegas de mesa, afinal, eles são humanos como você!
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