Lendas Esquecidas #12 – O Kobold Perdido (Parte 2)

Salve aqueles que nos consagram!

E nesta quarta-feira chegamos na parte 2 do conto O Kobold Perdido (confira aqui a parte 1). No conto temos Rastro, um kobold renegado, como uma das principais peças desta trama. Em busca de redenção, ele segue em sua empreitada para alcançar o vilarejo de Hilke e cumprir seu misterioso objetivo. Após transpor a pacata floresta, ele reencontra com mais um antigo aliado, um dos seus pupilos.

Parte 2

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Três dias depois de enfrentar Carrel, um dos capitães do senhor das víboras, Rastro chega aos limites sul da floresta. Cansado de toda uma vida de luta para sobreviver e depois de saborear a paz na floresta, ele não está certo do que deve fazer. Talvez eu deva ficar e fazer da floresta meu novo lar.

Rastro ainda tinha força física para continuar com seu objetivo, mas a sua mente não. Na noite passada voltou para atacar um pequeno destacamento daqueles que estavam no seu encalço. E usando tudo que a floresta tinha a lhe oferecer, deu cabo de todos os kobolds que estavam ali. Foi muito fácil, pensou. Seus instintos queriam ficar e montar base na floresta. Tenho tudo aqui, começou. Recruto alguns aliados e está feito! Era o plano perfeito, mas tinha que chegar a Hilke, “devia” isso a aquele povo. Não era típico para um kobold, mas este desejava paz. Devia pelas vidas inocentes que arrancara com suas garras. Devia pelas famílias inocentes que agora estavam sem pais e irmãos. Todos caíram perante sua fúria. Tragicamente…

Rastro era um kobold incomum. Tinha um pouco mais de noventa centímetros, mais alto que a média. Suas escamas eram escuras e foscas, não reluziam como as dos outros. Garras fortes, pés grandes que lhe fornecia grande impulsão, e suas presas teimavam em sair da sua grande boca. Seus olhos amarelados eram conhecidos como o olhar da morte, e assim era chamado. Podia-se ver até músculos no incomum kobold. Certa vez, o senhor das víboras o chamou de “Guardião!”.

– Guardião do quê? – perguntou-se mais uma vez, enquanto forçadamente dava mais um passo para deixar a floresta. – Já vejo a primeira guarita. Hilke está próxima.

O farfalhar das árvores. Um zumbido. Um estrondo, e uma voz!

– Não está tão perto assim…

Rastro já estava preparado; presas, garras e lança em punho.

– Imaginei que só viria quando estivéssemos na mira dos arqueiros do vilarejo. – Rastro partiu para cima do kobold que cavalgava um grande verme da montanha. Correu por terra e depois de alguns passos já estava subindo na barriga do grande verme que se erguia. A lança que tirara do ogro fez pequenos cortes no infeliz verme, e este urrou.

Pego de surpresa, o cavaleiro kobold usava apenas um elmo de ossos – talvez de um orc –, e empunhava um chicote. Sua tira de couro, trançada, tinha aproximadamente três metros de comprimento, e era manuseada com maestria pelo cavaleiro.

Rastro já estava no topo do verme quando o cavaleiro deu conta. Teimosamente o verme se remexia após provar da lâmina da lança de Rastro.

SHIPA! – Estalou o chicote do cavaleiro, e obedientemente o verme se mexeu tentando derrubar Rastro e esmagá-lo com seu peso. Rastro saltou. O pobre verme, acostumado a lutar ao lado de kobolds, estava desnorteado. Perdido em um turbilhão de sensações, a besta aguardava as ordens do cavaleiro. Ciente disto, Rastor se movimentava impedindo que a criatura entrasse no combate.

– Não tenho escolha, Rastro, terei que matá-lo. E com a sua pele farei uma bela capa…

Você fala demais, pensou Rastro investindo mais uma vez. E mais uma vez o seu alvo era o verme.

A sequência de cortes fez o verme guinchar. O barulho incomodou o cavaleiro que respondeu com uma chicotada, prendendo o braço que segurava a lança.

Rastro impulsionou-se usando os pés para se livrar das investidas do verme. A bocarra trazia infinitas presas e caçava o kobold sem sucesso. Com auxilio do outro braço, Rastro puxou o chicote. Ambos caíram.

Sem cavaleiro, e descontrolado, o verme investiu contra eles.  Rastro se desprendeu do chicote e deixou o cavaleiro a sua própria sorte. O verme não hesitou em abocanhar seu próprio cavaleiro, que só pôde gritar enquanto as infinitas presas faziam seu serviço.

Rastro saboreou o momento por um instante, sentiu a bolsa de bolinhas, e conferindo que estavam intactas, vislumbrou a guarita de Hilke e partiu na direção do vilarejo.

Ainda pôde ouvir vários barulhos vindos da floresta. Eles estão muito próximos.

– Barulhentos como sempre. – tentou sorrir, mas estava preocupado.

Ao longe, um curioso observador pôde conferir cada detalhe da peleja. Retirou o elmo, em forma de cuia, e passou a mão na espessa cabeleira amarela…

Continua no próximo Lendas Esquecidas.

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Author:Antunes Rocha

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