Salve os bons!
Chegamos a conclusão do conto. Caso não tenha acompanhado o início dessa fuga, confira aqui! O fugitivo kobold chega na primeira guarita de Hilke, e lá algumas surpresas acontecem… Será que Rastro completa seu objetivo? Os humanos entendem suas intenções? Confira abaixo.
Parte 3 de 3
Alcançar a Primeira Vigília foi fácil – assim era conhecida a guarita mais ao norte de Hilke.
– Difícil será convencer os humanos.
Cada passo que dava em direção à Hilke, a esperança de Rastro diminuía. Levarei tantas flechadas antes de abrir a boca, que…, não concluiu o pensamento.
Tocou fogo na mata seca próximo a guarita para garantir que as atenções estivessem voltadas para lá. Sabia que os guardas se revezavam em turnos. Havia passado quase uma semana cercando o lugar, na última vez que estivera aqui, para passar com seus comandados. São cinco turnos. Cinco soldados apenas, sorriu.
Ao avistarem a mata em chamas, dois deles desceram empunhando grandes lanças e escudo pequenos. Vestiam camisões de couro surrado e um colete de anéis que cobria apenas o troco. Botas com placas de aço, na parte da frente, afiveladas na parte de trás. Capuzes de anéis, prolongamento dos coletes, cobriam as cabeças.
– Os humanos não aprendem. Estão mais pesados que antes.
Sem perder tempo, Rastro partiu usando as quatro patas na direção dos dois. Surpresos, não puderam reagir a tempo. Porém, o kobold fez algo diferente. O primeiro caio após uma caudada. O outro foi atacado na barriga. Um chute. E ficou sem ar.
A porta estava fechando quando Rastro a alcançou. O terceiro guarda caiu inconsciente sem saber o que o atacara. Rastro também foi atingindo. Contorceu-se enquanto virava para fitar seu atacante. Quis berrar de tanta dor, mas poderia chamar atenção de mais alguém que estivesse no topo, foi inútil.
Tentou alcançar a flecha vincada nas costas, mas não alcançou. Dois guardas, um com o arco curto, observava da escada espiral. Pôde ver o seu rosto. Era sardento e provavelmente entrara para a guarda de Hilke há pouco tempo. Atirou mais por medo do que por certeza.
A luz fraca da tocha que iluminava o lugar, que mais parecia uma ruína, não fora suficiente para revelar o segundo guarda na escada. Ele era grande e forte.
– Guarda… não – disse em péssimo Comum. Havia aprendido algumas palavras do idioma humano, talvez não fosse o suficiente para que pudessem compreendê-lo, mas era o que dava para ser feito.
O guarda por trás do arqueiro, se aproximou.
– Não sou guarda, lagarto, mas sou eu quem irá dar um fim na sua dor – o homem estava pronto para guerra. Seus trajes eram ainda mais pesados e por um momento pareceram impenetráveis. Retirou o elmo em forma de cuia e passou a mão na cabeleira amarela, e de cócoras perguntou: quem é você? E o que faz aqui?
Rastro arregalou os olhos, incrédulo. Cuspiu sangue nas botas do homem abaixado e sorrindo ergueu a cabeça para encará-lo. Aquele rosto lhe era familiar.
– Eu… salvar… homens.
Uma grande gargalhada conjunta explodiu no andar inferior da torre de vigília. Ela encerrou quando os primeiros guardas que foram atacados passaram pela porta.
– Acabe logo com ele, Tisso! Veja suas escamas, é o kobold das histórias. Ele matou seu pai!
Tisso levantou de repente, agarrou o guarda pela gola e o atirou contra a parede. Os outros, assistindo a cena, ficaram admirados com a força do homem. Rastro voltou a ficar de quatro, estava sangrando.
Retirou a pequena bolsa da cintura. Enquanto Tisso o observava, calmamente desembainhou a espada. Tisso estava intrigado com aquilo. Gostaria de matá-lo, mas antes ia saber o que o kobold que tirara a vida de seu pai estava fazendo ali tantos anos depois.
Rastro estendeu a mão com a bolsa.
– Abrir – ele conseguiu dizer. – Tomei xerife, agora devolver.
Rapidamente Tisso retirou a bolsa da mão do kobold. Abriu-a para admirar os Olhos de Osir. Joias magníficas, orgulho do povo de Hilke, joias que pertenceram ao próprio Salmar Hilke, fundador do vilarejo e grande herói. Tisso cerrou o punho em volta delas e esmurrou o indefeso kobold, enquanto lágrimas escorriam na sua face dura. Lembranças do seu pai, antigo xerife do vilarejo, encheram a sua mente.
– Por quê veio devolver nosso tesouro, lagarto? O que faz pensar que agora estamos quites? E a vida do meu pai, também será devolvida?
O kobold compreendia cada palavra dita pelo humano. Gostaria de poder se expressar e explicar como o pai de Tisso havia morrido acidentalmente no assalto. Tudo deu errado naquela noite, se lamentou. E manteve a cabeça baixa, não conseguia mais encarar o humano.
– Vamos torturá-lo, Tisso? – Perguntou o guarda que estava na porta.
– Eu morrer agora. – Rastro decretou sua sentença, sem mais forças para lutar. Talvez não fosse forças que lhe faltassem, já estivera em situações piores, lhe faltava vontade para lutar. Achava que merecia morrer depois de todo sofrimento que ele e seus comandados impuseram ao povo do vilarejo.
– Não! – Tisso estava com um olhar diferente, o guarda tremeu. – Vamos enviá-lo a Avan. Paladill está a sua espera. Ele saberá o que fazer. – Tisso deu as costas e subiu os degraus com as mãos dadas para trás. – Tratem os ferimentos, não queremos que ele chegue morto.
Poucas horas depois, uma carroça partiu para Avan. O condutor levava um papel rabiscado: Rua das Traças, número dois, Mansão dos Mortos…
Aqui encerramos o conto, espero que tenham gostado. Deixe suas impressões nos comentários, se assim desejarem.
FIM…
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