Hoje vamos falar sobre Fé.
Opa, pode ficar tranqüilo, não vou pregar para você. Até poderia, mas não vou fazê-lo! Rsrsrsrs
Hoje gostaria de colocar em pauta o papel que todos achamos necessário na mesa de jogo, mas que às vezes percebo ser subjugado a um (uns) estereótipo(s) muito inconveniente(s). O usuário de Poderes Divinos.
Clérigos e Paladinos… Como os temos utilizado?
Ou são como padres arcaicos e chatos, ou passam a vida tentando “burlar” suas obrigações/restrições.
Sempre vejo situações assim em mesas de jogo, seja nas que participo ou nas que observo.
A Fé é algo comum a mim desde bem pequeno, fazendo parte de minha vida e porque não, moldando meu caráter. Todas as vezes que pude interpretar personagens com alto teor de Fé (sejam Clérigos ou não) eu compreendia que a essência do personagem estava intimamente e constantemente ligada a um ser que estava presente em sua vida, exatamente como eu me sentia.
Ser um personagem devoto é muito além de uma escolha de vida. Para mim, é ser definido por aquilo que escolheu seguir, na verdade para mim cada clérigo ou paladino é um escolhido.
Quando observo Clérigos e Paladinos que se chocam com o fato de: “não posso fazer isso por que vai contra minha divindade… que droga…”, isso me alarma bastante, e vejo que este jogador talvez não entenda o que é ser um Clérigo ou Paladino.
Ele escolheu um personagem que se mistura com sua divindade patrona, então ele nem deveria pensar na mais remota hipótese de possivelmente fazer algo que sua divindade nunca aprovaria!
Aí os “do contra” de plantão vem dizer: “Ah, Natan… mas isso é questão de interpretação…”
Er… Não, não para mim. Se você escolhe subjugar sua vida a serviço de outrem, então tem de assumir suas escolhas ou deixar isso para trás.
Por exemplo: quando você entra em uma empresa, começa a trabalhar tendo seus deveres a cumprir. Você acorda cedo, sem ninguém te obrigar, realiza suas tarefas com responsabilidade, sem ninguém ter de ficar no teu pé (assim se espera) e age de acordo com as políticas da empresa. Tudo isso visando benefícios pessoais a curto, médio e/ou longo prazo.
Mas imagina que você seja um Clérigo que também tem seus deveres, mas age contra os preceitos de sua divindade, sempre busca artimanhas para tomar aquela atitude que não poderia ou pior comete alguns “deslizes” que o mestre aceita, mas Amanautor NUNCA aceitaria?
Pior, assume-se que você não esteja servindo a uma divindade em benefício próprio nem a curto, a médio ou em longo prazo (salvo exceções), mas porque acredita naquele ideal ou conceito, a ponto daquilo ser algo pela qual vale a pena viver e existir).
Mas o que vemos? Clérigos vivendo para os grupos, para si mesmos ou seja lá o que for, e não para suas divindades…
Se você como este clérigo, fosse um profissional da empresa onde trabalha, seria demitido sem nenhuma chance de diálogo.
Tá aí… Nunca vi um mestre aplicar aquela regra de perda de poderes concedidos e magias… Aquela parte de penitência semelhante à magia “Missão” menos ainda…
Por quê?
Entendo que muito desta problemática existe por culpa dos mestres. Os jogadores aprenderam a ver os clérigos como fonte de cura, e em alguns casos como em D&D também como uma classe combativa equilibrada, e só. Simplesmente porque sempre se pode fazer alguma coisa quanto às obrigações/restrições.
É isso que eu pediria em uma mesa de jogo: Severidade.
Posso estar sendo criterioso demais, e alguns diriam até mesmo equivocado, mas falando a verdade, também não entendo pessoas que se dizem “ateus” e “agnósticos” jogando com personagens devotos. Vocês podem ter visto bons jogadores em algumas ocasiões, mas eu nunca vi um.
Não compreendo como uma coisa boa pode sair daí, por maior que seja a excelência em “interpretação” da pessoa alvo.
Porquê as aspas na palavra interpretação? Porque para mim, interpretar não é fingir, interpretar é se misturar, incorporar, envolver e ser envolvido em algo que se quer expressar, e como você pode incorporar eficientemente algo em que você não acredita?
O que eu sempre vi foi um misto de estereótipos e cartas marcadas…
Pregações? Influenciar vidas? Vamos, me diga qual foi a última vez que você viu um Clérigo declarando os preceitos de sua divindade, que não fosse numa tentativa de aporrinhar o ladino ou qualquer personagem caótico, neutro ou mal do grupo?
Quando foi a última vez que você viu na mesa de jogo um Clérigo se tornar importante fator nas comunidades em que passava, um evento a ser comentado pelos plebeus e pela aristocracia? Quando você viu um Clérigo ser reconhecido como um emissário de sua divindade e fazer valer seu papel de autoridade frente a população por merecimento, sem que seja mera “colaboração” do mestre?
Creio que a visão que temos dos Clérigos e Paladinos se mistura muito com os estereótipos que temos para os religiosos em nossa sociedade, e assim transferimos estes pré-conceitos para a mesa de jogo, o que demonstra obviamente uma grande inaptidão para se fazer valer de ideais, postura e atitudes realmente relevantes quanto a um ser superior da qual você decidiu ser um embaixador.
Obrigações e restrições não deveriam ser um fardo na mesa de jogo, como é hoje em dia, e clérigos não deveriam ser aqueles padres jesuítas medievais com mentes arcaicas, ou ser definidos por quantas magias de cura ainda podem usar.
Muito se fala sobre inovação no mercado RPGístico, e muito se busca sobre sistemas e mecânicas, mas vejo que muito se poderia fazer com tudo aquilo que temos, mas nos damos por satisfeitos com as coisas erradas.
Sonho em ver jogadores tratando a Fé com o mesmo carinho e esmero que os criadores de Forgotten Realms, Greyhawk, Dragonlance ou Tormenta tiveram ao conceber suas cosmologias.
Pense em todo um nicho dentro dos jogos que raramente foi explorado por tratar de assuntos que são socialmente reconhecidos como “indiscutíveis” pela nossa comunidade…
Sei que muitos suplementos devem ter sido criados lá fora, e obviamente não chegaram aqui por causa do motivo acima citado, mas isso não modifica o fato de que aqui no nosso país, os autores poderiam se aprofundar neste tema, e trazer renovação para a mente dos jogadores. Nisso, digo que o cenário de Tormenta tem feito um serviço quase de utilidade pública, com seus diversos suplementos que abordam o tema, seja específica ou parcialmente.
Gostaria de saber a opinião de vocês sobre as mesas de jogo onde participaram, se existia ou não as questões tratadas aqui, assim como formas de resgatarmos os personagens devotos das garras dos conceitos pré-moldados e estereótipos, pois os mesmos são (e podem ser ainda mais) fontes interessantíssimas de enredos, oportunidades de interpretação e acima de tudo, desafios que podem suportar toda aquela diversão que almejamos para uma tarde rolando dados…
Créditos de Imagem:
01 Jesper Ejsing ( http://bit.ly/O9skgX )
02 yumedust ( http://bit.ly/QxkMAI )
03 RalphHorsley ( http://bit.ly/S4aWt1 )
04 * Não encontrado
05 aaronmiller ( http://bit.ly/OywKIt )
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