Um fenômeno na literatura mundial, sem dúvida, um fenômeno de audiência batendo records em vários países, e se tudo der certo, um sucesso inegável vindo por aí no mundo dos games, a série A Song of Ice and Fire, mais conhecida como A Guerra dos Tronos (por causa do seriado homônimo) arrebanhou fãs por todo o mundo, e eu sou um deles.
Não sou Hipster, mas posso dizer que encontrei um livro preto e azul com uma ilustração MARAVILHOSA encostado em uma das pilastras de uma famosa livraria, muito antes do “Hype” causado pela fama mundial. As primeiras palavras, sim aquelas que vem do prólogo (shame on you se você não lê os prólogos dos livros), estas me convenceram imediatamente de que ali havia um tesouro. Eu li o prólogo inteiro na livraria e meu pé se moveu sozinho para a fila do caixa. E foram 591 páginas (sim, eu leio os apendices e os mapas) de uma coisa indescritível chamada literatura de qualidade. As experiências são diferentes para cada um de nós, mas você não pode negar o apelo da escrita de George R.R. Martin.
E é sobre isso que eu queria conversar aqui, a escrita dele, como uma forma de turbinar nossos jogos. O nível de Realismo na narrativa de George me chamou atenção. É algo como os trabalhos de Bernard Cornwell (um outro expoente do gênero, #SuperIndico) mais rápido e simplificado, mas ainda sim com uma carga de elegância não muito comum por aí. As pessoas cagam, dormem, se relacionam sexualmente, sentem frio, medo e principalmente: É difícil sobreviver.
E então me peguei lembrando de algumas das mesas de jogos onde participei, e o quanto certos detalhes que poderiam fazer toda a diferença eram deixados de lado, algumas vezes em prol da próxima batalha nem tão importante assim:
SONO: Como o sono é usado nas aventuras que você participa? Nas minhas não me lembro da última vez que meu personagem sonhou. SIM sonhou. Digo, não como uma bruxaria tentando envolver a mente dele, nem como um aviso de um mago aliado, ou até mesmo como um gancho para a aventura, eu digo sonhar mesmo. Que dirá as ações/conversas que podem ocorrer entre os personagens que ficaram de vigia. Creio que esta sensação de que o tempo está realmente passando, realmente “sendo gasto” contribui para uma imersão maior dentro do mundo de jogo.
ALIMENTAÇÃO: Não, sério pessoal, estou rindo aqui. Fora as rações gastas quando queríamos fazer viagens longas, ou quando o mestre queria “dificultar” um pouco as coisas para alguns jogadores, meus personagens eram os únicos (ou os primeiros a decidirem, depois os outros lembravam) que diziam: “Estou com um pouco de fome, vou me alimentar de uma ração.” Ou então: “Vou até a taverna/taberna e peço o jantar porque já está na hora.”
Imaginem que tipos de conversas ou personalidades podem ser criadas em uma convenção social como essa? Já ouvi falar de culturas onde você não conhece uma pessoa, até fazer uma refeição em conjunto. Fora que sempre foi e é considerado até os dias de hoje uma alta honraria ser convidado para tal ação.
Sempre me peguei pensando: Nos RPG’s está a única realidade onde os homens fazem fotossíntese.
SEXO/RELAÇÃO AMOROSA: Esses dias eu vi um burburinho na internet sobre a quantidade de cenas de sexo na série televisiva dos livros que falei, chamada Game of Thrones (traduzida como Guerra dos Tronos). Sério, estas pessoas com certeza não leram os livros. E não sabem o quanto eles poliram a série. Só a quantidade de violações é algo que beira o absurdo. Existe uma GUERRA varrendo os sete reinos, e as pessoas estão fazendo mimimi pelas cenas no bordéu de mindinho. Os homens naquela realidade praticam sexo. Os homens em nossa realidade praticam sexo. Independente das crenças pessoais, a relação sexual faz parte da vida do ser humano, mas pelo menos nas mesas de jogo onde participei, isto era relegado a: “Vou ali na casa de burlesco me divertir.”
Personagens em relações amorosas geram infinitamente mais ganchos de aventuras do que um sonho profético ou uma determinada conversa ouvida na taverna/taberna, mas por onde passei eram sempre deixados de lado. Motivações INTEIRAS podem ir por água a baixo, frente a uma ameaça a alguem que se ama. Porque existem tantos Romances (literatura) no mundo? Porque o homem ama. Mas minhas experiências no RPG normalmente eram desprovidas de tal aspecto. Sinceramente, para mim os homens desprovidos de envolvimento pessoal, parecem mais com robôs, que continuam suas tarefas e atividades, muitas vezes com objetivos, mas na maioria delas sem propósito. Espero que em suas mesas não tenham sido assim! E se foi, que tenham lutado contra isso como eu.
DEFECAR/TOMAR BANHO: “Ah Natan, mas em um mundo medieval, a higiene pessoal era precária...”
Ahnn. Tá. Mas quanto tempo você acredita que um ser humano (ou elfo, ou orc, ou halfling…) pode ficar sem banhar-se, e não adquirir uma doença grave? (tá, talvez Devas, Meio-Elementais e Vampiros consigam…)
E de quanto era a expectativa de vida na idade média? Mais uma vez falando de MINHAS experiências, não me lembro de ter visto um jogador dizer: vou ali tomar banho. Sério, nem os meus (me dei mal nessa).
Pode-se dizer que este por menor pode estar subentendido em uma aventura, para agilizar o tempo ou que isso é algo tão pequeno que não merece importância, mas em minha perspectiva, esta que estou apresentando, um mundo com alto teor de realidade e imersão PRECISA de detalhes.
Estes são detalhes que consagram escritores como Cornwell e Martin. Quantas vezes você leu um livro onde diz que o personagem esvaziou as tripas, ou cagou na floresta. Para mim soou engraçado, interessante e revelador. “Revelador?” Você pode perguntar. “Sim, revelador…“, eu responderei, porque senti que aqueles personagens são tão humanos quanto eu.
Alguns dizem que existem necessidades humanas. Eu posso arriscar a dizer que as nossas necessidades nos tornam humanos. E o fazem também com nossos personagens.
PERSPECTIVAS/EXPECTATIVAS/BACKGROUND: Bem este é um pouco mais delicado. Um bom mestre óbviamente exigirá um background rico e coeso, que possa definir o personagem. Mas as vezes isso para por aí. As vezes, a menos que o personagem insira um oponente digno de nota, e por sinal, de uso, pequenos detalhes da vida anterior ao início das aventuras atuais do personagem servem para definir o que ele foi, e não o que ele é ou espera ser. Creio que por isso que eu tenha visto uma alta taxa de personagens agindo contra sua tendência escolhida. não estavam mais amarrados ao seu passado. Aquilo era o que eles foram, e não o que eles são. É assim conosco? Pelo menos comigo não é. Minhas experiências tem peso real em minhas escolhas atuais, pois elas delineiam e me dão parâmetro para decidir meu futuro. E pensar em meu futuro gera Expectativa.
Vejo muitas mesas de jogo onde os personagens “deixam a vida (leia-se mestre) os levar.” Um personagem com personalidade (não é redundancia), possui pelo menos um plano de ação, planeja chegar em algum lugar, a menos que sua própria personalidade diga que não. O que por sinal não seria muito interessante, mas ainda sim confortável para o mestre. Muito se pensa nos desafios que os MESTRES têm de criar para os JOGADORES, mas nunca vejo ninguém falando dos desafios que os JOGADORES devem trazer aos MESTRES. Bons jogadores fazem seus mestres pensar e interpretar/agir frente a novas circunstâncias, tanto quanto os bons mestres tem de fazer com seus jogadores.
Tudo isso eu vejo nestas obras literárias e percebo que são coisas por demais importantes. Talvez você me diga que em sua mesa estes itens aparecem, ou então que só aparecem os que os envolvidos consideram importante e os outros ficam de lado. Fico feliz por você que está satisfeito com sua mesa de jogo.
Mas minha intenção aqui é trazer certas tendências e apresentar novas possibilidades. O mundo dos games já tem percebido isso, e inserido games que são sucesso de público onde seu personagem tem de comer, descansar e até interagir com circunstâncias onde pessoas podem morrer ou viver segundo suas ações, e suas escolhas REALMENTE modificam seu futuro.
Esses games são um sucesso, e creio que todos queremos que nossas aventuras sejam um sucesso também, então que tal tentar coisas diferentes? Uma aventura em modo HARD onde sobreviver tanto fisica quanto mentalmente possui níveis de desafio nunca enfrentados antes?
Créditos de Imagem:
01 agnidevi ( http://bit.ly/IhkjNZ )
02 PatrickMcEvoy ( http://bit.ly/Ij7J2b )
03 Tquickreaver ( http://bit.ly/IAI5JB )
04 b-Worx ( http://bit.ly/IAHKH0 )
05 timwann ( http://bit.ly/Ij8Sqq )
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