O Beijo Gelado
Frio como minha alva pele macia e lustrosa, como o luar daquela noite, que só não se equiparava com a bela lua cheia deste sábado sombrio.
Meus trajes eram negros como a noite. A boca rubra sobressaía ofuscada talvez só pelos meus olhos hipnotizantes como duas esmeraldas brutas.
Assim saí à quarta hora após se pôr meu temido sol. Caminhando lentamente pelas ruas ainda alagadas pela chuva da noite anterior. As pessoas já se recolhiam para o conforto de suas casas, mas ainda havia aquelas mais ousadas que permaneciam até mais tarde na solidão e perigo da noite, perigo de meu beijo gelado.
Eu cruzava agora uma ponte arqueada que ligava a cidade por sobre o rio. E foi nesta ponte que eu a vi. Parada. Mirando em algo além do que meus olhos puderam perceber, ainda.
Sua pele era tão branca quanto a minha, com lábios bem feitos e semi cerrados que logo me deixaram apaixonado. Ela vestia uma calça jeans baixa e uma jaqueta negra que se confundia com os cachos também negros de seu longo cabelo.
Conforme eu me aproximava, sentia sua mente se ligando a minha, sua alma e a minha eram uma só. Ela tentava fugir de minha mente, banir seus pensamentos de mim, no entanto eu já havia ganhado. Já a dominara.
Contudo foi quando me postei a sua frente, que pode me vencer. Entreguei-me à ela, não pude resistir a sua beleza exuberante.
Com dois olhos negros e puxadinhos, quase oriental. Percebi que um filete vermelho tingindo-lhe a face próxima ao queixo. A pele denunciava-a, éramos iguais, ambos carregávamos o fardo sombrio e eterno.
Ela então me abraçou. Suas lágrimas de sangue escorreram pelo meu ombro. Acabara de fazer sua primeira vítima, sua primeira morte. Dor que eu também sentira havia séculos. Então soube o que fazer na mesma hora; e acho que eu mesmo precisava de um pouco disso. Sangue!
Beijei seu pescocinho e me encaminhei para seus lábios onde a beijei. Conforme nos beijávamos mordi a língua dela e ela a minha. Seu sangue descia-me doce pela garganta e sei que o meu também a inundava.
Depois disso, ela se afastou. Olhou as horas no relógio de pulso e fugiu de mim, sem se despedir ou ao menos me dizer seu nome. Fiquei ali parado; sem reação; ainda estava freneticamente abalado, desestruturado pelo néctar que acabara de beber… E eu nunca mais tornei a vê-la nesta minha não vida.
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